Saia do óbvio: a moda brasileira vai além das estampas que remetem a sua fauna e flora. Com um toque quase artesanal, é inegável que, por anos, essa foi a base de sua identidade. No entanto, cada vez mais, os designers brasileiros buscam mostrar suas perspectivas pessoais e aprimorar suas técnicas, revelando a rica cena cultural desse vasto país.
O Brasil foi moldado pela interação de três culturas distintas que, ao longo de sua formação como nação, contribuíram tanto para suas qualidades quanto para suas mazelas devido à colonização. Além disso, ao longo de sua história, diversos outros povos desembarcaram nesse território, influenciando profundamente nossa culinária, música, língua, arquitetura e, evidentemente, a moda.
Dividido em cinco regiões geográficas totalmente diferentes, o Brasil inspira estilistas emergentes de todos os cantos do país a criarem roupas que buscam expressar suas narrativas pessoais. Eles resgatam e valorizam suas ancestralidades através de peças que incorporam tecnologias de ponta, agregando ainda mais valor às suas coleções.
A sustentabilidade, as culturas marginalizadas e técnicas como rendas, upcycling, couros e texturas diversificadas, combinadas com a brasilidade, têm um forte apelo e tornam esta nova era da moda brasileira singular no mercado mundial. Esta nova geração de designers também se estabelece de maneira independente, mostrando a falta de apoio neste setor no país, mas também demonstrando sua força e resiliência.
Essas marcas buscam, acima de tudo, agregar e amplificar seus discursos, contribuindo para tornar a moda brasileira mais abrangente em todos os aspectos, valorizando cada etapa do processo de criação das roupas.
Aqui estão alguns exemplos:
Da Silva: Fundada por Gabriel Da Silva, a marca se destaca por trazer uma identidade única em suas peças.
Inspirado por sua realidade na periferia da Zona Norte de São Paulo, o designer ganhou destaque após vencer o reality show Design Vision da TV Fashion. A estética Mandrake é valorizada em seus trabalhos, caracterizada pelo uso ousado de estampas, cores vibrantes e elementos que evocam a cultura do funk. Gabriel Da Silva não apenas cria moda, mas também se posiciona como um agente de mudança significativo na cena fashion brasileira, elevando e valorizando narrativas muitas vezes marginalizadas e sub-representadas.
WTNB: Fundada por Ana Clara Watanabe, a marca é conhecida pela sua sustentabilidade e inovação, que abrangem desde o vestuário até o mobiliário.
Seu rico trabalho na alfaiataria, onde Ana utiliza técnicas como upcycling e explora dimensões variadas em suas coleções, é o que torna seu estilo único. O reaproveitamento de materiais que poderiam se tornar lixo também se faz presente, sempre inspirada pela arte nipo-brasileira.
Atelier Mão de Mãe: Fundada por Patrick Fortuna, Vinicius Santana e sua mãe Luciene, a marca tem uma identidade visual fortemente baseada no crochê em suas criações. No entanto, vai além ao utilizar essa técnica na construção de modelagens complexas, incorporando elementos como búzios, palha e miçangas, sempre valorizando a herança e as crenças das religiões de matriz africana.
O trabalho artesanal é a base essencial de seu estilo.
Mateos Quadros: Fundada por Mateos Quadros, a marca homônima apresenta algo único no mercado brasileiro: a utilização de técnicas modernas como impressão 3D, tecidos naturais, diversas texturas e trabalho manual, inspirados em fungos e protozoários, muito ligados à ciência. Isso faz do designer um pioneiro nesse segmento. Sua coleção de estreia nas passarelas trouxe criações fluidas que exploram a natureza brasileira, demonstrando a versatilidade que uma roupa pode oferecer.
A moda brasileira é genuína porque esses designers e suas respectivas marcas capturam as nuances do Brasil, transformando suas vivências, sentimentos e expectativas em peças de roupa.
Ao enfrentar e refletir a realidade do país, por mais desafiadora que seja, eles posicionam o Brasil em destaque no cenário global da moda.